domingo, 5 de setembro de 2010

Confira a crítica do filme Nosso Lar


Não é tarefa simples adaptar um livro para as telonas. Embora caminhem em estradas convergentes, literatura e cinema possuem características bem singulares. Logo, num piscar de olhos, pode-se transformar uma bela história em um filme decepcionante ou que não alcança o poder do original em papel. A missão é ainda mais complicada quando este livro possui fãs incondicionais (O Poderoso Chefão, O Senhor dos Anéis, Harry Potter). Agora, imaginem a complexidade do problema quando a obra é de teor religioso.

É o caso de Nosso Lar, baseado na obra espírita psicografada pelo médium Chico Xavier na década de 1940 e que já vendeu mais de 2 milhões de exemplares. A história gira em torno do médico André Luiz (nome fictício, como o próprio livro destaca), que após morrer se vê em um lugar conhecido como Umbral - região gerada pela psique dos espíritos que precisam resgatar seus erros - onde permanece por quase uma década. Após sofrer as mazelas da inóspita região, ele é levado para a colônia Nosso Lar, onde precisa aprender a servir para progredir, numa caminhada de autoconhecimento e evolução.

Nas mãos do pouco conhecido diretor Wagner de Assis, Nosso Lar é um filme competente na idéia de entreter. Ostentando um orçamento de 20 milhões de reais (o mais caro da história do cinema nacional), o longa apresenta um resultado surpreendente na precisa e caprichosa direção de arte, assinada por Lia Renha, e nos efeitos especiais, exportados da Intelligent Creatures, responsável por Babel e Watchmen, que não soam toscos, felizmente. E se a fotografia não é ousada, ao menos dividi bem suas cores entre o cinza macabro do Umbral, o amarelo envelhecido ao retratar o passado e o azul e branco da colônia. As críticas que a produção vem recebendo às formas arquitetônicas, inspiradas abertamente no estilo Oscar Niemeyer, são absurdas, pois seria o mesmo que dizer que o trabalho de Niemeyer é cansativo.

Escrito também por Wagner de Assis, que deveria ter dividido a tarefa com outro profissional, Nosso Lar cumpre bem o seu papel, sem desabar uma avalanche de informações que atrapalharia a percepção do espectador, mas demora a engatar a quinta marcha, principalmente no segundo ato. Cortes abruptos na edição e cenas que não dizem nada à história ajudam a deixar o longa irregular na segunda e terceira meia hora de projeção. O roteiro tropeça também na construção de alguns personagens. Se em alguns casos os diálogos se encaixam, em outros ficam vazios e sem função. Se ora consegue fazer graça neste ou naquele momento, ora a fala dos atores soa pedante. Exemplo disso é quando um jovem morador da colônia espiritual, ao avistar um grupo de recém-chegados, diz sorrindo “esse não é o céu que vocês pediram, mas vamos ajudar todo mundo” ou quando André ouve de um amigo que no mundo há os descrentes que “são ateus, graças a Deus”.

Curioso observar que, se no sucesso de bilheteria Chico Xavier – O Filme o elenco dava fôlego a um roteiro que tinha o mesmo problema de ritmo, aqui não é o que observamos. O veterano ator Renato Pietro, acostumado em atuar em peças teatrais com temática espírita, demora um pouco para encontrar o timing de André Luiz, mas vai se soltando no decorrer da projeção, mostrando a evolução do médico na sua luta espiritual. Werner Schünemann oferece aqui um Emmanuel mais carismático que o austero Emmanuel de André Dias em Chico Xavier. E é uma pena (nunca uma falha da produção) que grandes atores como Paulo Goulart, Selma Egrei, Othon Bastos e a querida Chica Xavier (estigmatizada como empregada sábia, o que é lamentável) não ganhem mais espaço.

Por fim, a trilha sonora do americano Philip Glass emociona e conforta, se desequilibrando apenas nas cenas de maior tensão, como se diretor e maestro não tivessem entrosado o suficiente.

Nosso Lar não é um filme inovador (e quem disse que a intenção era essa), mas diverte o espectador. O longa não se perde em uma infinidade de clichês que poderiam ter acabado com a história. Talvez o mais importante de todos esteja em não tentar passar lições de morais no final da projeção. A conclusão que se tem ao sair do cinema é de que simplesmente assistimos a um homem em sua luta particular por evoluir e amar. Crer que aquilo é ficção ou real, absorver ou não para a própria vida, isso depende de cada um.

Escrito por Daniel Gonçalves

2 comentários:

  1. Realmente o filme nosso lar tem o objetivo passar para o telespectador como e a vida apos a morte, fazer com que ele tenha ja uma certa noçao que apos a morte nao ficara mergulhado em duvidas e ja sabera como e o processo de desencarnaçao.

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  2. Muitas pessoas não acreditam ainda nas obras de André Luíz, alegando maldosamente que se tratam de obras fictícias, tomando sem conhecimento doutrinário algum, trechos de livros de Allan Kardec para defender esta teoria absurda, alegando ainda que as coisas que são relatadas nos livros são devaneios da imaginação de Chico Xavier, que não possuem lógica alguma ou coisa pior. É importantíssimo portanto que recordemos que até mesmo o próprio Kardec dizia que, muitas coisas que existem do lado de lá ainda não estariam no momento certo de serem reveladas, onde os próprios espíritos confirmavam ainda mais uma vez, que num futuro próximo elas seriam devidamente esclarecidas. Com toda certeza essas pessoas sem conhecimento doutrinário algum, nunca leram com cuidado o capítlo "Laboratório do Mundo Invisível", do Livro dos Médiuns, portanto, não podem dizer nada a respeito de André Luíz. Ainda tem mais..., por uma questão de lógica pura, é facilmente aceito tudo o que nas obras do autor são referenciadas, considerando que estamos ainda muito presos na matéria física e..., demoraríamos centenas de anos, ou talvez milhares de reencarnações seriam necessárias ainda para que pudéssemos se desvencilhar por completo do modo de vida da Terra, portanto, nada mais natural que no mundo espiritual ainda exista um modo de vida semelhante em quase 100 % de grau com a vida da Terra. Nada mais natural que devamos ainda nos alimentar, beber água e tantas outras coisas mais realizar no mundo dos espíritos, TRABALHAR principalmente, incessantemente para o nosso progresso moral e intelectual, em serviços de caridade no mundo dos espíritos, auxiliando espíritos ainda presos no mal, dos quais vagueiam inutilmente em nosso meio terreno, anulando sua evolução. Se quiserem mais esclarecimentos a respeito da Doutrina Espírita, essa doutrina linda e libertadora, acessem meu e-mail: bruno_conti@ig.com.br estarei feliz em responder suas dúvidas..., abraços !!! Bruno

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